domingo, 2 de março de 2014

Desculpa por te amar.

A carta começava assim: "Queria pedir-te desculpa...".
E o resto? Ninguém sabe! Ninguém sabe o que é feito do resto da explicação. Julgo nunca ter sido transposta para uma simples e irremediável justificação escrita. 
Aliás, pouco se podia depreender daquela folha de papel. Apenas tinha isto escrito no ínicio o já dito e no fim acabava com um "nunca te esqueças que te amo". 
Quem seria tal pessoa? Porque estaria a pedir desculpa a alguém que dizia amar, no final da folha em branco? 
Estaria a pedir desculpa por algum erro cometido? Estaria a pedir desculpa por necessidade? 
Afinal, o que quereria dizer aquele pedido de desculpa? 
Qual a necessidade de alguém que ama começar por pedir desculpa? 
Percebi tudo no momento em que a conheci. 
Esqueci-me de vos dizer que a carta tinha o nome da pessoa. Mas tinha e eu conheci-a! 
"Para a maioria dos comuns mortais esta carta não fará sentido. Tem inicio, fim, mas é vazia de conteúdo. Não te digo que tenha sido uma história em branco ou uma ilusão porque não foi. Simplesmente não senti necessidade de explicar absolutamente nada. Para quem era, saberia perfeitamente ao que me estava a referir. Acham estranho pedir desculpa? Sim, o inicio e o fim da carta estão ligados. Sem querer entrar em explicações muito alongadas e perplexas, às vezes sentimos necessidade de pedir desculpa por amar. Ninguém ama demais! Toda a gente ama em conta e medida com aquilo que se sente ser o correto. E já pensaram se um dia tivermos a coragem de pedir desculpa por não ser capaz de esquecer? É verdade! O ser humano não é uma máquina, em que se clica num botão e no mesmo momento que sente, deixa de sentir. 
E era essa a demistificação do meu pedido de desculpas. Pedi desculpas a quem de destino por não conseguir esquecer; por parte de mim ser um poço de recordações e saudade. Pedi desculpa por ter entrado sem pedir autorização. Pedi desculpa por acreditar. Pedi desculpa por sonhar. Pedi desculpa por lutar. Na verdade, pedi desculpa por amar!" - disse a pessoa.
Fiquei estática a olhar para os olhos dela. Brilhavam mais que as próprias estreladas num céu abundado delas. Porque não chorava? - pensei. Porque sorria? No lugar dela, digo-vos: eu não teria vontade de esboçar um sorriso. Mas ela sorria. A sorrir agradeceu-me tê-la procurado. Agradeceu-me tê-la feito revelar o segredo da carta. A sorrir disse-me "...foi a pessoa que eu mais amei e isso não há vocábulos que expliquem."


sábado, 1 de março de 2014

S de sede ou S de saudade?

Tenho sede. Sede de sentir. Sede de viver. Sede de ser.
Se é que se pode ser alguém com sede...
Mas eu tenho sede! 
Jaz o vento lá fora. Sente-se o frio, até no conforto. Está a começar a anoitecer. Daqui a nada vejo o explendor da maravilhosa e impunente senhora e observo-a e contemplo-a, como se mais nada existisse. 
Até lá, observo o vento a dar o ar de sua graça, fazendo dançar frágeis ramos de cada árvore e batendo-me à janela, como se quisesse entrar.
Tenho sede!
Na verdade, todos nós temos sede. Na verdade todos nós procuramos a saciedade. 
Ninguém é só por si alguém completamente realizado! Ou falta algo, ou falta alguém. 
O meu copo já está vazio, mas eu continuo com sede! 
Como é bonita a natureza lá fora....Como ela emerge sem quês nem porquês...Como é fácil contemplá-la. 
O vento começa a ir embora, para outras paragens. Os ramos das árvores começam a ficar estáticos. A chuva começa a parar. Estará tudo pronto a ir dormir? 
Eles a adormecerem e a imponente senhora a reaparecer e brilhar intensamente sobre um manto escuro.
Tenho sede. Secalhar se for dormir passa...Claro que passa! ... Mas amanhã volta! 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Querido 25 de Fevereiro

Um beijinho deu-lhe o vento. Não era o mesmo! Não era intenso, mas era leve e fresco e cobria aquilo que de melhor estava na sua mente.
E se...?
Perguntas intercalavam-se na sua mente, perturbavam o seu cérebro e repetiam-se no seu dia a dia.
Na verdade não podia ter respostas. Era assim porque era. Era assim porque assim o destino estava dado. 
Era passado. Claro que era! Como o ontem é o passado do hoje. Como uma flor nasce e morre! Não havia explicação. 
Contudo, não invalidava que não se lembra-se do cheiro da flor, do seu abrotar e de todo o seu especial encanto. 
Era algo que tinha visto crescer (e aliás contribuira para tal). Logo, fazia parte de si. Já era algo seu...em forma de saudade. 
Toda a recordação trás saudade. Tudo aquilo que tem significado tem um bocadinho de "e se...". Desejamos sempre o melhor e queremos sempre o melhor quando algo contribui para a nossa felicidade. É verdade!
Nada podia fazer! Não  se conformava com a não resposta, mas ao mesmo tempo tinha a noção que não podia continuar naquele impasse.
Deu dois passos. Em direção ao futuro? Não sei. Recuou um passo. Eis o dia de hoje! Sabia que o caminho seria sempre em frente, mas ao mesmo tempo sentia que o recuar daquele passo a fizera reviver e recuar naquilo que tinha sido o seu percurso até ali. Era necessário! Era preciso! Havia que não esquecer. Não para querer de volta, mas para ter a certeza que tinha valido apena o fôlego que perdera. Tinha de continuar a correr. Só assim atingiria o caminho a seguir. Não vale olhar para trás. Não vale vacilar. "Carpe diem" e agora era tarde. Caiu-lhe uma gota de agua sobre o cabelo, a música parara e o céu começava a ficar feio, -cinzento e escuro- estaria triste? Não podia continuar a divagar entre as ondas do mar e a areia  da praia. O caminho era em frente! Sabia que seria longo mas chegaria na mesma ao seu destino e seria aí que novas perguntas surgiriam, não para responder ao "e se...", mas para dar sentido ao "teve de ser assim". Chegaria completamente molhada mas chegaria. E se não tivesse começado a chover? Provavelmente continuaria a divagar nas suas perguntas sem resposta. 
Olhou para trás. Sorriu. Seguiu caminho. As pegadas iriam marcar para sempre a sua presença ali. Isso ninguém podia negar!

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Malmequer...bem me quer...

Deram-me um malmequer e disseram-me "cuida dele e protege-o como se fosse único no mundo". Limitei-me a sorrir. Como iria dar vida a uma coisa que eu sabia que mais tarde ou mais cedo iria morrer? Não fazia sentido. Quanto muito cuidava dele uns dias e isso restava. 
Quem me o deu? Não sei. 
Todos os dias olhava para o parapeito da janela e ele lá estava, igual a todos os dias. Limitava-me a dar-lhe água e esperar o passar dos dias. 
Naquele dia, acordei e percebi que algo de estranho se passava. O malmequer estava diferente. Aproximei-me e vi uma pétala caída. Achei que ele estava incompleto (e estava!). Nunca mais nada ia ser igual! A pétala não ia nascer de novo. Simplesmente tinha morrido. 
O malmequer nunca mais ia ser o mesmo! E eu o que tinha feito? Nada! Aliás, inicialmente nem percebera o motivo do aparecimento dele nos meus dias. 
Não o podia deixar! Eu não o podia deixar morrer! Percebi isso rapidamente quando uma tristeza profunda me assombrou o coração e se pronunciou pelos olhos. 
Aquela pétala não a iria simplesmente deitar fora. Iria guardá-la ali, junto de toda a flor, para que nunca se sentisse só e ao mesmo tempo tivessem presente que continuavam a pertencer e a completar-se uma à outra.
Não conseguia perceber! Todos os dias alimentava a planta e todos os dias um pouco dela morria. Porquê? O que estaria eu a fazer de errado?
Nada! Estava tudo certo! Simplesmente assim estava destinado! E era meu dever não deixar a flor na solidão daquela janela. Todos os dias mais uma pétala se juntava a muitas outras, sobre a terra. Mas em momento algum deixei uma pétala que fosse sair dali. Era ali o lugar de cada uma delas! Eu não as podia separar! Estaria a entregar o malmequer à sua triste e solitária morte! 
Restava o caule...e agora? Iria sorrir e olhar para ele com orgulho, porque seria a memória de algo lindo e muito especial - a minha flor! Nunca iria morrer! Isso eu tinha a certeza. Nunca a iria abandonar!  E as pétalas, essas continuariam ali para me recordar aquilo que tinha sido e já não era...a minha flor!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Destino sem ribalta

Fama. Glamour. Esterlato. Luzes. Camâra. Ação.
Vivia (e vivo) num mundo completamente à parte. Sabia lá eu o que queria. Nada me demovia. Nada me fazia parar. Nada era impedimento para nada. 
Sabiam lá vocês o que era ou não era verdade! Ninguém sabia! Ninguém imaginava. Eu tinha de parar! Mas nada me fazia parar! 
Descansar? Sim, descansarei quando o último fio de cabelo cair; quando estiver irremediavelmente agarrada a um tubo de oxigénio. 
Não quero nada! Não quero ninguém! Deixem-me viver e ser feliz, por favor. 
Colocarei o meu cabelo todas as noites, produzirei o meu rosto, vestirei a minha melhor roupa e estarei pronta para as luzes da ribalta. Não amanhã. Não daqui a uns dias. Hoje! 
Como poderia eu achar que nada era impedimento para nada? Conheci-o. Tudo na minha vida mudou. Era errado pensar que uma pessoa igualmente frágil como eu seria o anunciar do meu destino mais perto! Estivesse o que estivesse para acontecer, apenas o tempo o diria. Não o podia rejeitar apenas porque tava nas mesmas condições que eu. E se o sonho dele fosse eu? E se a salvação dele fosse eu? Não podia simplesmente dizer-lhe não e ir-me embora. Sabia lá eu se não me entregaria ao destino primeiro do que ele? Nada estava dado como certo - foi algo que aprendi nos últimos meses. 
E assim foi! Chovia lá fora. Eu não queria querer mas não havia raio de sol. Não ouvia as batidas do estrelato. Não via as luzes do glamour a ofuscarem-me. Ninguém me tinha convidado para ir dançar para a pista. Aliás eu estava ofuscada sim, mas na minha própria tristeza; no meu próprio destino. E que destino...Tinha ainda a peruca colocada. Não iria tirar! Isso seria admitir que estava doente e entregar-me a um cruel destino! Encontrava-me no hospital. Já via a botija de oxigénio, não restava um único fio de cabelo. E agora? O que seria de mim? Teria chegado a minha hora? E ele? Onde estava ele? Na verdade o gin tinha-me feito esquecer que alguém morava no meu coração. Afinal não era eu que era o sonho dele. Ele sim era o meu desejo final! Queria ter a última oportunidade de lhe dizer a única coisa que nunca fui capaz de admitir para mim mesma - que o amava. Seria tarde demais? Já devia ser...Entreguei-me ao destino traçado por mim mesma. Foram excessos, noites, luzes, sem nunca me importar com nada nem ninguém. Agora estaria sozinha? Vou dormir. Não quero pensar no que virá depois. Já o sei. 
Alguém me tocou na mão. O que se passa? Mal conseguia abrir os olhos. Estava demasiado cedada pelas pequenas bombas que adiariam a minha morte. Era ele! Quis dizer-lhe tudo, quis explicar-lhe tudo. Aliás, quis pedir-lhe desculpa. Não fui capaz! Perguntei-lhe "e agora?" . Ele sorriu e respondeu-me "será que é desta que poderemos ficar juntos?". Quis chorar, mas não fui capaz. Tinha-me acabado de aperceber que afinal não tinha aproveitado nada da vida. Faltara ele. Agora? Oh, agora seria tarde. Apenas lhe fui capaz de dizer "não cometas o mesmo erro que eu". Ele sabia do que eu falava. Sorriu-me. Adormecemos lado a lado, como ele sempre sonhara e eu sempre desejara. Ficariamos juntos. Disso eu tinha a certeza!

Chá de camomila

- Um pouco de chá. Não...um pouco de chá com açúcar por favor! Ou melhor...tem adoçante? Prefiro isso...
Falseado do amargo e doce sabor intenso. Está quente o chá. Como vai esfriar? Vou ter de esperar? A sério? Odeio esperar! Odeio tudo o que me faça perder tempo, sem o ter. 
Vou brincar com o cabelo. Pode ser que assim esfrie mais rápido, o chá. Puxo um caracol, puxo outro..já não há mais cabelo para brincar. O chá continua quente? Ainda lhe vejo o bafo do fumo. Está morno. Doce leveza do que é puro. Onde está o adocicado? Não está! Não lhe consigo encontrar a essência. O chá transmite-me tranquilidade, calmia... Ou será que são os efeitos da própria planta do chá? Todos nós nos envolvemos em enganos daquilo que faz bem sem o fazer! Temos a mente demasiado formatada para encontrar nas coisas formas de solucionar aquilo que sozinhos não conseguimos fazer! E quando o chá acabar? O que virá a seguir? O adoçante acabou! Não irei beber água quente com sabor. Não entremos por aí! Consigo que a fervura me aqueça a garganta! Será que me vai aquecer a alma? É um conforto para a alma? Aliás, estou a falar do chá ou de algo mais complexo como o amor? 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Prazer da vida?

O coração continua amontoado. Turbilhões de emoções, desilusões, paixões. Continua a desejar. Desejo de amor. Desejo de felicidade. É isso. Liberdade é estar ao sabor do vento, a ver o mar e a beber um bom martini blanco, sem ter de pronunciar uma única palavra. É doce, forte, aquece e ilucida-me. Os pensamentos começam a fazer sentido. Tudo começa a encaixar. As paixões afinal eram amores e ilusões afinal eram desilusões. Não quero pensar em nada. Os pensamentos levam-me a explicações a mim mesma e isso não quero (ou por outra: não consigo). Quero continuar assim: no silêncio dos meus próprios sentimentos. Estou sozinha. Quero sorrir. Não sou feliz, mas quero sorrir. Um último golo de martini. Está frio! Vi a última onda! Observo uma última vez o horizonte. Vou para casa, a caminhar ao sabor do vento.