sábado, 15 de fevereiro de 2014

Destino sem ribalta

Fama. Glamour. Esterlato. Luzes. Camâra. Ação.
Vivia (e vivo) num mundo completamente à parte. Sabia lá eu o que queria. Nada me demovia. Nada me fazia parar. Nada era impedimento para nada. 
Sabiam lá vocês o que era ou não era verdade! Ninguém sabia! Ninguém imaginava. Eu tinha de parar! Mas nada me fazia parar! 
Descansar? Sim, descansarei quando o último fio de cabelo cair; quando estiver irremediavelmente agarrada a um tubo de oxigénio. 
Não quero nada! Não quero ninguém! Deixem-me viver e ser feliz, por favor. 
Colocarei o meu cabelo todas as noites, produzirei o meu rosto, vestirei a minha melhor roupa e estarei pronta para as luzes da ribalta. Não amanhã. Não daqui a uns dias. Hoje! 
Como poderia eu achar que nada era impedimento para nada? Conheci-o. Tudo na minha vida mudou. Era errado pensar que uma pessoa igualmente frágil como eu seria o anunciar do meu destino mais perto! Estivesse o que estivesse para acontecer, apenas o tempo o diria. Não o podia rejeitar apenas porque tava nas mesmas condições que eu. E se o sonho dele fosse eu? E se a salvação dele fosse eu? Não podia simplesmente dizer-lhe não e ir-me embora. Sabia lá eu se não me entregaria ao destino primeiro do que ele? Nada estava dado como certo - foi algo que aprendi nos últimos meses. 
E assim foi! Chovia lá fora. Eu não queria querer mas não havia raio de sol. Não ouvia as batidas do estrelato. Não via as luzes do glamour a ofuscarem-me. Ninguém me tinha convidado para ir dançar para a pista. Aliás eu estava ofuscada sim, mas na minha própria tristeza; no meu próprio destino. E que destino...Tinha ainda a peruca colocada. Não iria tirar! Isso seria admitir que estava doente e entregar-me a um cruel destino! Encontrava-me no hospital. Já via a botija de oxigénio, não restava um único fio de cabelo. E agora? O que seria de mim? Teria chegado a minha hora? E ele? Onde estava ele? Na verdade o gin tinha-me feito esquecer que alguém morava no meu coração. Afinal não era eu que era o sonho dele. Ele sim era o meu desejo final! Queria ter a última oportunidade de lhe dizer a única coisa que nunca fui capaz de admitir para mim mesma - que o amava. Seria tarde demais? Já devia ser...Entreguei-me ao destino traçado por mim mesma. Foram excessos, noites, luzes, sem nunca me importar com nada nem ninguém. Agora estaria sozinha? Vou dormir. Não quero pensar no que virá depois. Já o sei. 
Alguém me tocou na mão. O que se passa? Mal conseguia abrir os olhos. Estava demasiado cedada pelas pequenas bombas que adiariam a minha morte. Era ele! Quis dizer-lhe tudo, quis explicar-lhe tudo. Aliás, quis pedir-lhe desculpa. Não fui capaz! Perguntei-lhe "e agora?" . Ele sorriu e respondeu-me "será que é desta que poderemos ficar juntos?". Quis chorar, mas não fui capaz. Tinha-me acabado de aperceber que afinal não tinha aproveitado nada da vida. Faltara ele. Agora? Oh, agora seria tarde. Apenas lhe fui capaz de dizer "não cometas o mesmo erro que eu". Ele sabia do que eu falava. Sorriu-me. Adormecemos lado a lado, como ele sempre sonhara e eu sempre desejara. Ficariamos juntos. Disso eu tinha a certeza!

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