domingo, 23 de fevereiro de 2014

Querido 25 de Fevereiro

Um beijinho deu-lhe o vento. Não era o mesmo! Não era intenso, mas era leve e fresco e cobria aquilo que de melhor estava na sua mente.
E se...?
Perguntas intercalavam-se na sua mente, perturbavam o seu cérebro e repetiam-se no seu dia a dia.
Na verdade não podia ter respostas. Era assim porque era. Era assim porque assim o destino estava dado. 
Era passado. Claro que era! Como o ontem é o passado do hoje. Como uma flor nasce e morre! Não havia explicação. 
Contudo, não invalidava que não se lembra-se do cheiro da flor, do seu abrotar e de todo o seu especial encanto. 
Era algo que tinha visto crescer (e aliás contribuira para tal). Logo, fazia parte de si. Já era algo seu...em forma de saudade. 
Toda a recordação trás saudade. Tudo aquilo que tem significado tem um bocadinho de "e se...". Desejamos sempre o melhor e queremos sempre o melhor quando algo contribui para a nossa felicidade. É verdade!
Nada podia fazer! Não  se conformava com a não resposta, mas ao mesmo tempo tinha a noção que não podia continuar naquele impasse.
Deu dois passos. Em direção ao futuro? Não sei. Recuou um passo. Eis o dia de hoje! Sabia que o caminho seria sempre em frente, mas ao mesmo tempo sentia que o recuar daquele passo a fizera reviver e recuar naquilo que tinha sido o seu percurso até ali. Era necessário! Era preciso! Havia que não esquecer. Não para querer de volta, mas para ter a certeza que tinha valido apena o fôlego que perdera. Tinha de continuar a correr. Só assim atingiria o caminho a seguir. Não vale olhar para trás. Não vale vacilar. "Carpe diem" e agora era tarde. Caiu-lhe uma gota de agua sobre o cabelo, a música parara e o céu começava a ficar feio, -cinzento e escuro- estaria triste? Não podia continuar a divagar entre as ondas do mar e a areia  da praia. O caminho era em frente! Sabia que seria longo mas chegaria na mesma ao seu destino e seria aí que novas perguntas surgiriam, não para responder ao "e se...", mas para dar sentido ao "teve de ser assim". Chegaria completamente molhada mas chegaria. E se não tivesse começado a chover? Provavelmente continuaria a divagar nas suas perguntas sem resposta. 
Olhou para trás. Sorriu. Seguiu caminho. As pegadas iriam marcar para sempre a sua presença ali. Isso ninguém podia negar!

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Malmequer...bem me quer...

Deram-me um malmequer e disseram-me "cuida dele e protege-o como se fosse único no mundo". Limitei-me a sorrir. Como iria dar vida a uma coisa que eu sabia que mais tarde ou mais cedo iria morrer? Não fazia sentido. Quanto muito cuidava dele uns dias e isso restava. 
Quem me o deu? Não sei. 
Todos os dias olhava para o parapeito da janela e ele lá estava, igual a todos os dias. Limitava-me a dar-lhe água e esperar o passar dos dias. 
Naquele dia, acordei e percebi que algo de estranho se passava. O malmequer estava diferente. Aproximei-me e vi uma pétala caída. Achei que ele estava incompleto (e estava!). Nunca mais nada ia ser igual! A pétala não ia nascer de novo. Simplesmente tinha morrido. 
O malmequer nunca mais ia ser o mesmo! E eu o que tinha feito? Nada! Aliás, inicialmente nem percebera o motivo do aparecimento dele nos meus dias. 
Não o podia deixar! Eu não o podia deixar morrer! Percebi isso rapidamente quando uma tristeza profunda me assombrou o coração e se pronunciou pelos olhos. 
Aquela pétala não a iria simplesmente deitar fora. Iria guardá-la ali, junto de toda a flor, para que nunca se sentisse só e ao mesmo tempo tivessem presente que continuavam a pertencer e a completar-se uma à outra.
Não conseguia perceber! Todos os dias alimentava a planta e todos os dias um pouco dela morria. Porquê? O que estaria eu a fazer de errado?
Nada! Estava tudo certo! Simplesmente assim estava destinado! E era meu dever não deixar a flor na solidão daquela janela. Todos os dias mais uma pétala se juntava a muitas outras, sobre a terra. Mas em momento algum deixei uma pétala que fosse sair dali. Era ali o lugar de cada uma delas! Eu não as podia separar! Estaria a entregar o malmequer à sua triste e solitária morte! 
Restava o caule...e agora? Iria sorrir e olhar para ele com orgulho, porque seria a memória de algo lindo e muito especial - a minha flor! Nunca iria morrer! Isso eu tinha a certeza. Nunca a iria abandonar!  E as pétalas, essas continuariam ali para me recordar aquilo que tinha sido e já não era...a minha flor!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Destino sem ribalta

Fama. Glamour. Esterlato. Luzes. Camâra. Ação.
Vivia (e vivo) num mundo completamente à parte. Sabia lá eu o que queria. Nada me demovia. Nada me fazia parar. Nada era impedimento para nada. 
Sabiam lá vocês o que era ou não era verdade! Ninguém sabia! Ninguém imaginava. Eu tinha de parar! Mas nada me fazia parar! 
Descansar? Sim, descansarei quando o último fio de cabelo cair; quando estiver irremediavelmente agarrada a um tubo de oxigénio. 
Não quero nada! Não quero ninguém! Deixem-me viver e ser feliz, por favor. 
Colocarei o meu cabelo todas as noites, produzirei o meu rosto, vestirei a minha melhor roupa e estarei pronta para as luzes da ribalta. Não amanhã. Não daqui a uns dias. Hoje! 
Como poderia eu achar que nada era impedimento para nada? Conheci-o. Tudo na minha vida mudou. Era errado pensar que uma pessoa igualmente frágil como eu seria o anunciar do meu destino mais perto! Estivesse o que estivesse para acontecer, apenas o tempo o diria. Não o podia rejeitar apenas porque tava nas mesmas condições que eu. E se o sonho dele fosse eu? E se a salvação dele fosse eu? Não podia simplesmente dizer-lhe não e ir-me embora. Sabia lá eu se não me entregaria ao destino primeiro do que ele? Nada estava dado como certo - foi algo que aprendi nos últimos meses. 
E assim foi! Chovia lá fora. Eu não queria querer mas não havia raio de sol. Não ouvia as batidas do estrelato. Não via as luzes do glamour a ofuscarem-me. Ninguém me tinha convidado para ir dançar para a pista. Aliás eu estava ofuscada sim, mas na minha própria tristeza; no meu próprio destino. E que destino...Tinha ainda a peruca colocada. Não iria tirar! Isso seria admitir que estava doente e entregar-me a um cruel destino! Encontrava-me no hospital. Já via a botija de oxigénio, não restava um único fio de cabelo. E agora? O que seria de mim? Teria chegado a minha hora? E ele? Onde estava ele? Na verdade o gin tinha-me feito esquecer que alguém morava no meu coração. Afinal não era eu que era o sonho dele. Ele sim era o meu desejo final! Queria ter a última oportunidade de lhe dizer a única coisa que nunca fui capaz de admitir para mim mesma - que o amava. Seria tarde demais? Já devia ser...Entreguei-me ao destino traçado por mim mesma. Foram excessos, noites, luzes, sem nunca me importar com nada nem ninguém. Agora estaria sozinha? Vou dormir. Não quero pensar no que virá depois. Já o sei. 
Alguém me tocou na mão. O que se passa? Mal conseguia abrir os olhos. Estava demasiado cedada pelas pequenas bombas que adiariam a minha morte. Era ele! Quis dizer-lhe tudo, quis explicar-lhe tudo. Aliás, quis pedir-lhe desculpa. Não fui capaz! Perguntei-lhe "e agora?" . Ele sorriu e respondeu-me "será que é desta que poderemos ficar juntos?". Quis chorar, mas não fui capaz. Tinha-me acabado de aperceber que afinal não tinha aproveitado nada da vida. Faltara ele. Agora? Oh, agora seria tarde. Apenas lhe fui capaz de dizer "não cometas o mesmo erro que eu". Ele sabia do que eu falava. Sorriu-me. Adormecemos lado a lado, como ele sempre sonhara e eu sempre desejara. Ficariamos juntos. Disso eu tinha a certeza!

Chá de camomila

- Um pouco de chá. Não...um pouco de chá com açúcar por favor! Ou melhor...tem adoçante? Prefiro isso...
Falseado do amargo e doce sabor intenso. Está quente o chá. Como vai esfriar? Vou ter de esperar? A sério? Odeio esperar! Odeio tudo o que me faça perder tempo, sem o ter. 
Vou brincar com o cabelo. Pode ser que assim esfrie mais rápido, o chá. Puxo um caracol, puxo outro..já não há mais cabelo para brincar. O chá continua quente? Ainda lhe vejo o bafo do fumo. Está morno. Doce leveza do que é puro. Onde está o adocicado? Não está! Não lhe consigo encontrar a essência. O chá transmite-me tranquilidade, calmia... Ou será que são os efeitos da própria planta do chá? Todos nós nos envolvemos em enganos daquilo que faz bem sem o fazer! Temos a mente demasiado formatada para encontrar nas coisas formas de solucionar aquilo que sozinhos não conseguimos fazer! E quando o chá acabar? O que virá a seguir? O adoçante acabou! Não irei beber água quente com sabor. Não entremos por aí! Consigo que a fervura me aqueça a garganta! Será que me vai aquecer a alma? É um conforto para a alma? Aliás, estou a falar do chá ou de algo mais complexo como o amor? 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Prazer da vida?

O coração continua amontoado. Turbilhões de emoções, desilusões, paixões. Continua a desejar. Desejo de amor. Desejo de felicidade. É isso. Liberdade é estar ao sabor do vento, a ver o mar e a beber um bom martini blanco, sem ter de pronunciar uma única palavra. É doce, forte, aquece e ilucida-me. Os pensamentos começam a fazer sentido. Tudo começa a encaixar. As paixões afinal eram amores e ilusões afinal eram desilusões. Não quero pensar em nada. Os pensamentos levam-me a explicações a mim mesma e isso não quero (ou por outra: não consigo). Quero continuar assim: no silêncio dos meus próprios sentimentos. Estou sozinha. Quero sorrir. Não sou feliz, mas quero sorrir. Um último golo de martini. Está frio! Vi a última onda! Observo uma última vez o horizonte. Vou para casa, a caminhar ao sabor do vento.