E o resto? Ninguém sabe! Ninguém sabe o que é feito do resto da explicação. Julgo nunca ter sido transposta para uma simples e irremediável justificação escrita.
Aliás, pouco se podia depreender daquela folha de papel. Apenas tinha isto escrito no ínicio o já dito e no fim acabava com um "nunca te esqueças que te amo".
Quem seria tal pessoa? Porque estaria a pedir desculpa a alguém que dizia amar, no final da folha em branco?
Estaria a pedir desculpa por algum erro cometido? Estaria a pedir desculpa por necessidade?
Afinal, o que quereria dizer aquele pedido de desculpa?
Qual a necessidade de alguém que ama começar por pedir desculpa?
Percebi tudo no momento em que a conheci.
Esqueci-me de vos dizer que a carta tinha o nome da pessoa. Mas tinha e eu conheci-a!
"Para a maioria dos comuns mortais esta carta não fará sentido. Tem inicio, fim, mas é vazia de conteúdo. Não te digo que tenha sido uma história em branco ou uma ilusão porque não foi. Simplesmente não senti necessidade de explicar absolutamente nada. Para quem era, saberia perfeitamente ao que me estava a referir. Acham estranho pedir desculpa? Sim, o inicio e o fim da carta estão ligados. Sem querer entrar em explicações muito alongadas e perplexas, às vezes sentimos necessidade de pedir desculpa por amar. Ninguém ama demais! Toda a gente ama em conta e medida com aquilo que se sente ser o correto. E já pensaram se um dia tivermos a coragem de pedir desculpa por não ser capaz de esquecer? É verdade! O ser humano não é uma máquina, em que se clica num botão e no mesmo momento que sente, deixa de sentir.
E era essa a demistificação do meu pedido de desculpas. Pedi desculpas a quem de destino por não conseguir esquecer; por parte de mim ser um poço de recordações e saudade. Pedi desculpa por ter entrado sem pedir autorização. Pedi desculpa por acreditar. Pedi desculpa por sonhar. Pedi desculpa por lutar. Na verdade, pedi desculpa por amar!" - disse a pessoa.
Fiquei estática a olhar para os olhos dela. Brilhavam mais que as próprias estreladas num céu abundado delas. Porque não chorava? - pensei. Porque sorria? No lugar dela, digo-vos: eu não teria vontade de esboçar um sorriso. Mas ela sorria. A sorrir agradeceu-me tê-la procurado. Agradeceu-me tê-la feito revelar o segredo da carta. A sorrir disse-me "...foi a pessoa que eu mais amei e isso não há vocábulos que expliquem."